
Sobre a necessidade de apreender o ser humano plenamente enquanto Ser Social
Vivemos em uma sociedade completamente individualista e apesar das pessoas compreenderem teoricamente que o ser humano é resultado de uma junção de múltiplas dimensões, dentre elas a social, a psíquica e a biológica, na prática a visão dominante que aparece é a do ser humano enquanto um ser individualizado, apartados dos demais, um dado imediato e abstrato. Chamo de visão dominante não só porque a maioria das pessoas pensam a partir dela, mas porque até mesmo aqueles que acreditam nas múltiplas dimensões, em variados momentos ancoram-se na perspectiva abstrata, apresentando-se como pura expressão da Ideologia. Segundo Althusser (1970, p. 79), a Ideologia é a forma pela qual os seres humanos representam na imaginação as suas relações com as condições de sua existência material. Sendo assim, superar a visão dominante passa também pela superação da forma social que organiza materialmente nossa sociedade.
É preciso ultrapassar a imediaticidade abstrata da visão dominante, que ancora-se ideologicamente, e apreender o ser humano em sua processualidade e totalidade, aproximando-se de sua concretude. Contudo, essa não é uma tarefa pura e simplesmente teórica, se essa teoria não se realiza em uma prática onde os sujeitos sejam efetivamente “atravessados” por essas múltiplas dimensões a contradição expressa acima seguirá garantindo as incontáveis violências produzidas e justificadas por ela.
A Ideologia tem sua garantia por ser um produto das práticas materiais dominantes que organizam nossa sociedade, portanto, criar espaços coletivos onde essas práticas sejam questionadas e novas práticas possam ser pensadas e desenvolvidas, possibilita apreender o ser humano efetivamente a partir de suas múltiplas dimensões e gestar os elementos que tornarão a superação dessa determinada forma social possível. Enquanto o ser humano viver de forma individualista a apreensão plena do ser social torna-se uma impossibilidade e a visão dominante continuará se expressando contraditoriamente e sendo justificativa para violência contra os humanos que têm sua humanidade negada e por essa razão se tornam objeto da mais implacável violação, exploração e opressão.
REFERÊNCIA:
ALTHUSSER, Louis. Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado [Recurso Eletrônico]. (1ª Ed.; Ramos, Joaquim J. de Moura, trad). Queluz de Baixo, Portugal: Editorial Presença Lda, 1970.
Comments